A seguir será narrada a história da Emilia-Romagna com base na tradução do fascícolo Nove Passos na história (Nove passi nella storia), que foram acrescidas de outras observações históricas importantes . A produção do volume Nove passi nella storia nasceu da colaboração entre vários órgãos regionais com o objetivo de delinear a história da Emilia-Romagna com palavras simples, ilustradas com aquarelas do artista Sergio Tisselli. Este trabalho resulta de um projeto desenvolvido pela Consulta dos emiliano-romanholos no mundo, afim de traçar um percurso de conhecimento da história da região, dos seus mais eminentes protagonistas, bem como daqueles que trouxeram ao mundo os talentos e a criatividade desta terra. Este percurso de conhecimento é destinado a todos os interessados a descobrir as peculiaridades da Itália e das suas regiões, mas em particular é endereçado a todos os emiliano-romanholos, sejam aqueles residentes no próprio território, como os que vivem no exterior. Para aqueles que vivem na Emilia-Romagna, trata-se de um instrumento útil para aprofundar o conhecimento da história e dos personagens que a tornam uma região famosa no mundo, evidenciando também quem, entre aqueles que emigraram ao exterior, se distinguiram no mundo. Enquanto, para quem vive no exterior, esta mostra representa a oportunidade para se aproximar, de uma nova maneira, à história da terra de origem e aos personagens que mantém em destaque o nome dela no mundo, assim, como as histórias de quem, como eles, compartilha o percurso migratório. Nasceu, assim, da parceria entre a Consulta, a Agência de Informação e a Assessoria de Imprensa do Conselho do Governo, o Escritório de Relações com o Público do Estado e o Instituto para os Bens Culturais, a coleção Imagens e palavras da Emilia-Romagna, tendo como primeira referência o site dos emilianos-romanholos no mundo, onde, na seção “História e cultura na Emilia- Romagna”, estão presentes materiais e documentos dos quais tomaram forma um conto que se vale em modo igual das palavras e da refinada qualidade das imagens. Trata-se de três narrações que se entrelaçam, porém, com uma autonomia particular. Três segmentos que oferecem uma viagem no tempo e nos lugares que, a apenas um século atrás, não eram de fácil acessibilidade. Ao final pode-se descarregar o PDF do volume Nove passi nella storia
DA PRÉ-HISTÓRIA A ÉPOCA ROMANA
O mar Adriático que a leste marca os limites territoriais da Emilia-Romagna era já frequentado na pré-história. Foi o ponto de desembarque e chegada de pessoas, que foram se instalando na península italiana deixando marcas no território e nas narrações de autores do passado.
Entre os séculos XVII e XVI a.C, na idade do Bronze, nesta terra difundiu-se uma civilização que foi chamada de “terramare” (Terra mar), os povoados construídos sobre palafitas. Esta cultura primitiva que ocupou muitas áreas da Emilia-Romagna e que atingia também as primeiras zonas dos Apeninos deixou ricos vestígios nos territórios de Modena e Parma. O mar Adriático vem evocado também na mitologia grega, como aquela de Hércules, e nos contos dos heróis homéricos. A partir do século VII a.C a navegação grega torna intensa: em boa parte dirigia para o Delta do rio Pó, sobretudo a Spina, como testemunham as esplêndidas cerâmicas hoje expostas no Museu Arqueológico de Ferrara. Por toda a antiguidade esta escala manteve sua função de mercado fluvial em direção a Padania e aos Alpes, portanto em direção à Europa. “Protovillanoviano” e “Villanoviano” são os termos usados hoje para definir as culturas que também nesta região, entre os séculos VIII e VI a.C marcaram o encontro com a civilização etrusca. Os Etruscos, provenientes do vale do Reno, através das cidades de Marzabotto (cidade dos Apeninos bolonheses) e de Bologna (que se chamava Fèlsina), se encontravam também no delta do rio Pó. Desta forma, dos Apeninos, os principados e as diversas cidades etruscas exerceram um domínio mercantil, sobretudo na parte oriental da região, por exemplo, através do vale da Marecchia, onde de um próspero centro protovillanoviano surgia o vilarejo de Verucchio.
Na parte ocidental, o domínio etrusco atuou como um verdadeiro monopólio político, tanto em Felsina, ao longo da estrada para Spina (Província de Ferrara), quanto no Modenese, no Parmense, no Piacentino, e também além do rio Pó. Deles derivou-se uma verdadeira e genuína produção artística e uma refinada cultura urbanística, como na cidade de Marzabotto, no vale do rio Reno. Na parte ocidental dos Apeninos, a cultura etrusca encontrou-se e se misturou com a população lígure ali instalada, que assistiram depois as invasões dos Celtas e a subsequente chegada dos romanos.
Na Emilia-Romagna os Celtas fixaram-se em localidades que frequentemente dominavam os vales dos Apeninos: como em Monte Bibele (Apeninos bolonheses, quase na divisa com a Toscana), no vale do rio Índice. Retornando ao mar, a costa adriática continuou sempre a ser explorada por uma navegação costeira: os principais pontos de desembarque foram Rimini e Ravenna; de Ariminum (isto é, Rimini, a primeira colônia criada por Roma na área padana, em 268 a.C) mercadorias e homens, através dos vales apeninicos, desciam no vale do rio Tevere. Na época romana o vale do rio Pó era chamado de Gália Cisalpina: ou seja, terra dos gauleses cercada pelos Alpes. Para o interior o curso do rio Pó (do latim Padus) identificava duas regiões: a Transpadana e a Cispadana (que correspondem atualmente a Emilia-Romagna). A fundação de Rimini preparou a penetração romana: em 218 a.C foi fundada a colônia de Placentia (atual Piacenza). A segunda guerra punica e a passagem de Aníbal interromperam por diversos anos a expansão romana na região. Entre 189 e 183 a.C a colonização foi retomada com a fundação de Bononia (Bologna), de Mutina (Modena) e de Parma. Para ligar as colônias romanas iniciou a construção de um único eixo de comunicação, obra do cônsul Emilio Lépido. A Estrada Emilia, que parte de Rimini e termina em Piacenza, trouxe uma transformação total, tanto na paisagem, como na economia do território: aterraram as áreas de pântanos, dividiram as terras férteis, criaram cerâmicas (para produção de tijolos e telhas) para a construção das cidades.
A partir do séc. I a.C, com o imperador Augusto, Ravenna, graças ao seu característico território lagunar, foi a base da frota romana do Oriente (a classis, de onde provém o nome Classe, localidade que foi o porto da cidade). Para este local, afluíram consequentemente marinheiros recrutados em terras longínquas. Numerosas estradas continuaram sendo construídas em direção ao norte a partir da Via Emilia. Fundamental também pelas oportunidades de comunicação, o caminho interno para a laguna: através dos espelhos de água do pântano costeiro, o caminho unia Ravenna a Altino e a Aquileia (nos atuais Veneto e Friuli Venezia Giulia). A romanização trouxe uma sistemática fixação de populações: marcas evidentes deste processo encontramos nas manifestações religiosas e no desenvolvimento da alfabetização. Durante a época imperial romana o Adriático registrou o afluxo de numerosos cultos provenientes dos próximos países do Oriente, dos quais restam vestígios nos objetos, inscrições e monumentos: um grande santuário dedicado às divindades orientais estava localizado em Sarsina, no coração dos Apeninos de Cesena.
Nos sécs. V e VI d.c., Ravenna foi o principal centro político da Península: já no ano de 402 o imperador Onorio ali tinha estabelecido a capital do império romano. Transferiu-se a capital de Milão por questão de estratégia militar em razão as facilidades de fuga pelo mar Adriático. Ravena foi a terceira capital do Império Romano do Ocidente (402 - 476), depois de Roma e de Milão (286 - 402). Depois do confuso período das invasões bárbaras, em 493 a Itália passou para o domínio dos Ostrogodos, e em Ravenna instalou-se o Rei Teodorico (rei dos Ostrogodos). Aí, o último imperador romano, Rômulo Augusto, foi destronado por Odoacro, que o humilhou publicamente, fazendo-o desfilar prisioneiro, vestido de camponês. Teodorico o Grande, rei bárbaro que destruiu as pretensões de outros invasores, teria sido cativado pela cidade e a elegeu como sua capital, embelezando a sua corte com aspectos arquitetônicos bizantinos, protegendo artistas de renome, sábios e eruditos que o presentearam elevando-a à outrora grandeza imperial, pérola do seu reino bárbaro, em pleno século V. Nesta cidade, encontra-se a magnífica catedral, em estilo gótico, que foi concebida para dignificar o Imperador Teodósio I, o seu primeiro grande morador. Nesta cidade, encontram-se, ainda hoje, resquícios das grandes muralhas que foram erguidas para defender o importante arcebispado que existiu no século X. Tornando-se imperador do Oriente Justiniano I, iniciou um programa politico destinado a reconquista daqueles territórios do Império Romano do Ocidente ocupados pelos reinados bárbaros (Ostrogodos na Itália, Visigodos na África e Espanha). Para tanto iniciou uma ofensiva militar conhecida como guerra gótica. A Itália logo passou ao controle do Império do Oriente. Em 527 Justiniano estabeleceu na península um protetorado que teve sede em Ravenna, subsequentemente controlada por exarcas. Justiniano, de outro lado, providenciou para que Maximiliano, seu homem de confiança, ocupasse o trono de bispo ravenate, assumindo, por vontade do imperador e pela primeira vez na história da igreja o papel de arcebispo.
Neste período, Ravenna, como sede do governo da Itália (Exarca), viveu um período de grande esplendor, comprovado pelas Basílicas de San Vitale e Sant’Apollinare in Classe. Durante o sec. VI a unidade política da região da Emilia-Romagna foi interrompida pela invasão dos Lombardos que ocuparam vários territórios, mas não conseguiram derrotar definitivamente os Bizantinos. Os Lombardos ocuparam a Emilia até Bologna e Imola, e concentraram-se em Reggio; aos Bizantinos restou a zona adriática, que tomou o nome de Romagna porque pertencia aos Romanos de Bizâncio.
Contra os Lombardos o Papa pediu ajudas dos Francos (formavam uma das tribos germânicas) que desceram para a Itália e em 773 os derrotaram. Os territórios da região passaram a fazer parte do Sacro Império Romano, constituído com a coroação do Rei Franco Carlo Magno no ano 800.
IDADE MÉDIA
Durante os primeiros séculos da Idade Média, nos conventos e nas grandes abadias, os amanuenses passaram a copiar os textos da tradição clássica, como ocorreu por um longo período em Bobbio, cidade localizada nos Apeninos piacentinos. O trabalho daquelas mãos contribuiu para o nascimento de grandes bibliotecas: dentre as primeiras a Malatestiana em Cesena. A sucessiva evolução do império levou a uma subdivisão administrativa do território em feudos. Com o tempo, a soberania dos feudos veio atribuída aos bispos, que iniciaram assim a constituírem pequenos domínios locais. Neste período formaram-se na região dois polos de notável influência: na Emilia Ocidental afirmou-se o domínio da casa de Canossa (disto foi protagonista a condessa Matilde); o território romanholo, ao contrário, organizou-se em torno da soberania do Arcebispo de Ravenna. Império e Igreja encontraram-se na oposição "Controvérsia da Investidura”, isto é, o direito de nomear os bispos. Justamente no Castelo de Canossa, nas colinas regianas, ocorreu um episódico que entrou para a história; no rígido inverso de 1077 o imperador Henrique IV para não ser excomungado esperou por três dias e três noites, descalço e vestido apenas com uma saia, antes de ser recebido e perdoado pelo papa Gregório VII por intercessão de Matilde de Canossa. Henrique IV, imperador do Sacro Império Românico-Germânico, havia decidido pela nomeação de um príncipe para o cargo a diocese de Milão que estava vacante. O papa Gregório excomungou Henrique IV que no confronto com o Papa não recebeu o apoio dos nobres, razão pela qual decidiu pelo pedido de perdão. Do episódio nasce a expressão idiomática andare a canossa que passou a integrar o vocabulário comum italiano e de outras línguas (alemão: "nach Canossa gehen", inglês: "go to Canossa", e francês: "aller à Canossa”), com o significado de humilhar-se, retratar-se, curvar-se ao inimigo, pedir perdão. Neste contexto, as classes mais ricas das cidades (proprietários de terra e comerciantes) manifestaram a insatisfação em relação aos poderes feudais e prometeram um novo tipo de ordenamento político que objetivasse administrar, a nível local, as leis, a justiça, os tributos e a economia: a Comuna. Entre os sec. XI e XII nos centros emilianos-romanholos, como em toda a Itália setentrional, formaram-se novos governos, guiados por cônsules eleitos por um conselho de cidadãos, que progressivamente estenderam a própria influência política e econômica nos territórios vizinhos. Com a consolidação do modelo comunal, as cidades tornam-se os centros de um renascimento econômico e cultural.
Inicialmente, aliando-se entre eles, as Comunas garantiram a própria independência e proteção aos assaltos das tropas imperiais. Após derrotar o inimigo comum, surgia rivalidade entre as cidades vizinhas, e lutas internas entre as facções das comunas: algumas proclamavam favoráveis ao Papado (os Guelfi) ou a favor dos Imperador (os Ghibellinos). As contínuas lutas internas enfraqueceram as magistraturas comunais e prepararam o terreno para a instalação de governos pessoais, nas mãos de famílias nobres. Em todas as cidades emiliano-romanholas consolidaram-se as Senhorias: Piacenza, Parma, Mirandola, Carpi, Correggio, Scandiano, Imola, Faenza, Forlì, Ravenna, Rimini. Ferrara, em particular, desde 1242 tornou-se o centro da Senhoria dos Estenses, que depois abrangeu Modena e Reggio. Em Bologna o regime comunal teve uma longa duração, e somente por breves períodos afirmaram as senhorias Pepoli e depois dos Bentivoglio. Após uma série de guerras entre as potências regionais vizinhas (Milano, Venezia, Firenze, a Santa Sé), no início do séc. XV Bologna e a Romagna passaram a pertencer ao Estado Pontifício. Não obstante as guerras e a instabilidade política, durante a época das Comunas e das Senhorias, desenvolveram-se com maior fervor e variedade a vida cultural e econômica, a indústria, a agricultura, os intercâmbios, a arte, a poesia: a cidade de Ravenna conserva até hoje os restos mortais do poeta Dante Alighieri. É o tempo no qual nasce e afirma-se a Universidade de Bologna, a mais antiga do mundo. São construídas as catedrais, os edifícios comunais, castelos e fortalezas, as muralhas das cidades são ampliadas progressivamente para acolher um crescente número de habitantes.
DO RENASCIMENTO A ÉPOCA NAPOLEÔNICA
O século XVI teve início com a consolidação do domínio pontifício sobre a parte oriental da região. O Papa Giulio II, com uma série de ofensivas militares, conquistou inicialmente as cidades da Romagna e depois, em 1506, Bologna. No final do século, em 1597, morreu o Duca Alfonso d’Este, sem deixar herdeiros diretos: O Estado Pontifício ocupou Ferrara e o seu território, enquanto aos Estenses restou a posse de Modena e Reggio. Estabilizava-se assim, na Emilia-Romagna, uma estrutura política concebida para durar, apenas com o intervalo napoleônico, até a unificação da Itália; o território regional foi subdividido em três Estados: o ducado de Parma e Piacenza (criado em 1545 pelo papa Paolo III para a sua família: os Farense), o ducado de Modena, as possessões do Estado Pontifício (Bologna Ferrara, a Romagna). Entre os grandes personagens da cultura que deixaram marcas na Romagna durante o Renascimento, significativa foi a presença de Leonardo da Vinci, que em 1502 desenhou o projeto do porto-canal de Cesenático.
Não obstante a estabilidade política, os séculos XVI, XVII e XVIII foram marcados somente por breves períodos de paz. Em várias ocasiões, a região foi atravessada por exércitos estrangeiros, com o seu trem de epidemias e fome: as invasões dos Lanzichenecchi , a guerra dos 30 anos e as guerras da sucessão Austríaca na primeira metade do sec. XVIII. Nas províncias do Estado Pontifício foi sendo reforçada a estrutura administrativa central: criou-se, consequentemente, o poder dos representantes do Papa, os cardeais “legati”, que deriva do nome “Legazioni” para os territórios de Bologna, Ferrara e Ravenna. Os pequenos ducados de Parma e de Modena, ao contrário, para sobreviverem entre as maiores potências utilizaram da diplomacia. Durante o sec. XVII assistiu-se à restruturação edilícia e o embelezamento das novas capitais ducais: em 1617, em Parma, Ranuccio I Farense confia a Giovan Battista Aleotti a construção do teatro ligneo no Palácio da Pelota (Palazzo della Pilotta), palco cênico ideal das fantasiosas cenográficas barrocas; em 1634, em Modena, Francesco I d’Este edificou o Palácio Ducal, destinado a abrigar sua maravilhosa coleção de obras de arte.
DA IDADE CONTEMPORÂNEA
Na segunda metade do Sec. XVIII difundiu-se na Emilia-Romagna as ideias do Iluminismo, e as tentativas de enfrentar com uma visão leiga e racional os problemas sociais, políticos e econômicos. Sobretudo o ducado de Parma, que passou em 1732 a dinastia francesa dos Bourbons, pareceu sensível aos influxos culturais europeus, que na politica traduziram na luta contra os abusos e os privilégios eclesiásticos, e na economia na modernização da indústria da seda, do papel e da gráfica (em Parma foi muito ativo o grande tipografo Giambattista Bodoni). Em Modena muitos intelectuais, e entre todos Ludovico Antonio Muratori, participaram diretamente na realização de reformas no campo da justiça e dos tributos. Quando começou a ofensiva de Napoleão na Itália, os princípios de igualdade transmitidos pela Revolução francesa já eram muito difusos na Emilia-Romana, até mesmo entre as classes populares que se inspiravam nos jacobinos mais radicais. Após a ocupação militar napoleônica de 1796, em Bologna, Ferrara, Modena e Reggio foram formados governos provisórios que iniciaram profundas reformas contra os privilégios feudais e da nobreza. Da união destas quatro cidades nasceu a República Cispadana, que no congresso de Reggio de 7 de janeiro de 1797 proclamou como símbolo o tricolor verde, branco e vermelho: a futura bandeira italiana. Poucos meses após, por vontade de Napoleão, a República Cispadana passou a fazer parte da nova República Cisalpina, que se estendia por todo o Norte do país e que sucessivamente intitulou-se Republica Italiana. Em 1805 a Republica torna Reino da Itália, do qual o rei era Napoleão Bonaparte. Parma e Piacenza, ao contrário foram anexadas diretamente a França.
Depois dos primeiros entusiasmos pela onda revolucionária, nasceu na população italiana uma forte hostilidade em relação aos franceses, que de fato tinham o controle sobre a República e depois sobre o Reino da Itália. O peso dos impostos, o serviço militar obrigatório, o contínuo estado de guerra criavam mal estar em todas as classes sociais. Começou então a surgir a ideia de um levante popular para a independência e unificação da Itália, como se lê na proclamação de Rimini de Gioacchino Murat (de 30 de maro de 1815). Mas o Congresso de Viena retomou a situação política anterior ao período napoleônico e colocou a Itália sob o controle austríaco, remetendo para as décadas sucessivas o êxito das aspirações patrióticas.
DA UNIFICAÇÃO DA ITÁLIA À SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Ente os anos de 1814 e 1815, também no território Emiliano, o Congresso de Viena restaurou a antiga ordem, restituindo as Legazioni (Bologna, Ferrara, Forlì e Ravenna) ao Estado Pontifício, Modena aos Estensi, e Parma a ex imperatriz Maria Luigia da Austria. Mas o descontentamento difundia-se, sobretudo entre aqueles que tinham tido um papel político de destaque no período napoleônico ou que tinham tirado vantagem econômicas pela abertura das fronteiras e pelo desenvolvimento do comércio na área padana e que agora estavam sendo penalizados. Para exprimir este desconforto nasceram várias associações, mais ou menos secretas. A onda de insurreições que da França espalhou-se para muitas partes da Europa em 1831 teve seu centro em Modena, com Ciro Menotti: daí o movimento ecoou em Parma e nas Legazioni. A intervenção das tropas austríacas restabeleceu mais uma vez a ordem, ainda que em Modena e nas Legazioni tivessem fortes reações. A revolução de 1848 varreu também a Emilia: os Ducados insurgiram e, graças ao envolvimento popular, forçaram os príncipes a fugir e proclamaram a anexação ao Reino da Sardenha. Enquanto em Roma vinha proclamada a Republica, o Estado Pontifício concedeu a constituição a Bologna, a Ferrara e a Romagna, negando-se, porém a participar na guerra contra os austríacos, que assim retomaram o controle. A queda da Republica Romana e a retirada de Garibaldi através dos Vales de Comacchio concluiu esta história épica.
Em maio de 1859, quando as tropas aliadas de Napoleão III e do Rei da Sardenha, Vittorio Emanuele II, passaram o Rio Ticino, a insurreição anti-austríaca repetiu-se, com o envolvimento da nova classe burguesa. O plebiscito de março de 1860 aprovou a anexação das novas oito províncias ao Reino Sardo. As primeiras eleições gerais daquele que se tornaria o Reino da Itália ocorreu em janeiro de 1860: os mais ilustres patriotas e muitas personalidades da região da Emilia-Romagna integraram o novo parlamento. Entre eles, o bolonhês Marco Minghetti sustentou a importância da descentralização como necessário contrapeso a unidade das províncias e elaborou um modelo de regionalismo que encontrou fortes resistências da parte da nova classe dirigente.
O meio século que passou entre a anexação e a eclosão da Primeira Guerra Mundial, a antiga divisão do país entre as diferentes leis, as situações econômicas contrastantes e as renovadas rivalidade municipais dificultou muito a assimilação das províncias da Emilia-Romagna a uma Itália unida.
Não obstante tal fato, o período entre 1870 e 1914 foi caracterizado por um grande desenvolvimento econômico, com o progresso da agricultura, o início de grandes obras de recuperação do solo, a formação de indústrias modernas, a ativação do comércio. A Emilia e a Romagna foram palco de um forte impulso ao associacionismo, com os mazinianos e os socialistas liderados por Andrea Costa.
Foram formadas as primeiras cooperativas agrícolas para locação coletiva e as primeiras cooperativas de trabalhadores rurais. As lutas sociais e a questão rural foram por muito tempo protagonistas da crônica política interna: em 1897 houveram greves das mulheres que capinavam as culturas de arroz no Ferrarese das colheitadeiras em Molinell, em 1901, em Bolonha, foi realizado o primeiro congresso da Federação dos Trabalhadores da terra; greves de particular sofrimento ocorreram em 1907 e 1908 nas províncias de Ferrara, Bolonha, Parma.
No final da Grande Guerra, na Emilia-Romagna os problemas dos trabalhadores da terra eram mais sérios do que nunca. O padrão de vida no campo, melhorado com anos de duras lutas, levou a um aumento considerável da população rural e a um excedente de mão de obra, devida também à escassa expansão industrial na região. Em toda a Itália as lutas das organizações socialistas foram retomadas com força nas cidades e no campo, na esteira da Revolução Russa: greves e agitações envolveram milhares de operários, camponeses e desempregados, com a Emilia na vanguarda. E justamente na região a reação dos proprietários agrários foi a mais violenta: em Bolonha o ataque ao Palácio Accursio de 21 de novembro de 1920 deu início a uma onda crescente de violência, agressão e destruição por obras dos esquadrões fascistas por eles subsidiados. Milhares de trabalhadores emilianos, para escapar da perseguição, tiveram que deixar o país, incentivando, em muitos casos, até mesmo do exterior, a luta contra a ditadura de Mussolini. Entre 1936 e 1939 de números voluntários de municípios da Emília dirigiram-se a Espanha e lutaram contra o Franquismo.
Mas os novos acontecimentos bélicos, de proporções jamais conhecida desde a Idade Média, atingiram a região nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial. Do final de julho de 1943, diversas almas dos antifascistas emilianos romanholos empenharam-se cada vez mais intensamente nas ações de guerrilhas e de resistência contra o exército de ocupação nazista. Naquele momento souberam colaborar forças sociais e políticas diversas e o envolvimento de grande parte da população, tanto na zona rural quanto na cidade, deu a Resistência aquele caráter popular que não teve igual no contexto italiano. Remontam ao outono de 1943 as primeiras ações da guerrilha partigiana, que se multiplicaram durante os próximos dois anos, ao longo de toda a cordilheira dos Apeninos cortado pela Linha Gótica, ocupada pelos alemães ao longo de mais de 300 quilômetros de Rimini a Spezia. A repressão alemã foi intensa em face dos partigiani, da população e do clero local pelo apoio que davam à Resistência: 3.500 civis foram fuzilados ou massacrados na região, 6.000 foram os guerrilheiros (partigiani) mortos. Uma ferida que toda a região ainda carrega as marcas e que em muitos lugares ainda não foi curada, como no caso dos massacres de mulheres, idosos e crianças, levados a cabo pelas SS no Vale do Reno.
Os aliados entraram Rimini em setembro de 1944 e em novembro do mesmo ano em Ravenna. Após a longa suspensão do avanço pelo inverno, em abril os aliados começaram a ofensiva final, começando com a liquidação do que havia restado da Linha Gótica na direção de Bolonha. A insurreição nas cidades forçou a fuga dos fascistas que haviam sido abandonados pelos alemães. Entre os dias 14 e 28 de abril de 1945 foram liberadas Imola, Bolonha, Modena, Ferrara, Reggio Emilia, Parma e Piacenza, em duas semanas o fronte nazifascista cedeu do Rio Senio ao Pó. Tinha assim início uma nova fase na história da Emilia-Romagna: a da consolidação, da defesa e do desenvolvimento da democracia. Muitas outras batalhas seguiram, em profundo contraste entre a renovação e a preservação, mantendo por muito tempo as vitais ideias da Resistência.
DO NASCIMENTO DA REGIÃO EMILIA-ROMAGNA AOS DIAS ATUAIS
Em 1970, para implementar o ordenamento previsto pela Constituição, que, depois da Segunda Guerra Mundial marcou o fim da monarquia e nascimento da República Italiana, foi instituída a região de Emilia-Romagna. A partir dos anos setenta até o final do século XX, a Região tem administrado e desenvolvido uma estrutura territorial já caracterizada, desde o período do pós-guerra, pelo a partir do policentrismo: cidades fortes, capazes de combinar e interagir crescimento econômico, desenvolvimento social e eficiência administrativa. Um modelo organizacional que permitiu às comunidades locais expressar, ao longo do tempo, exemplos de originalidade cívica e cultural. Os territórios de Emilia-Romagna não têm as mesmas características econômicas e sociais, mas esta é a região italiana na qual é menor a distância entre a província mais fraca e aquela mais forte, e cada distrito, de acordo com suas peculiaridades, foi protagonista de processos de crescimento. O eixo da Via Emilia foi consolidado de Bolonha a Rimini; o litoral desenvolveu-se, tanto no sul, na parte de maior densidade demográfica, quanto no norte, na parte de maior valor natural. Reforçou-se o eixo de Parma para Bolonha e novas tendências produtivas atravessam a baixa planície: o triângulo Imola-Faenza-Lugo, a área de Mirandola, o ramo Bolonha-Ferrara, o interior riminense. As áreas dos Apeninos, que representam metade da região, viram reconhecido o valor das diferentes peculiaridades e cada um encontrou o seu próprio caminho de desenvolvimento. Hoje, a Emilia-Romagna é uma grande região européia, um ponto estratégico entre as áreas fortes da Europa central, da bacia do Mediterrâneo e do Mar Adriático-Danúbio. Se o setor da agricultura ainda está sofrendo os efeitos de uma crise estrutural, o setor de produção industrial especializada é muito grande e competitivo, especialmente na mecânica. O setor terciário mais dinâmico, aquele dos serviços às empresas, tem uma presença difusa no território e, em relação à população, coloca muitas províncias entre as primeiras, a nível nacional (Bolonha, Parma, Modena e Reggio). O turismo continua a representar um importante segmento da economia regional. O valor dos investimentos e o número de pessoas envolvidas em pesquisa científica e tecnológica estão entre os mais altos na Itália e o sistema de universidades regionais coloca-se claramente em primeiro lugar no que diz respeito à atração de estudantes do exterior. Os serviços sociais, a saúde, o patrimônio e a atividade cultural, as empresas prestadoras de serviços, no seu conjunto possuem experiências de vanguarda.
O brasão adotado pela Região Emilia-Romagna representa de forma estilizada as duas características essenciais da longa história deste território: a linha ondulada do rio Pó e o oblíquo Via Emilia. O elemento natural da água que leva ao mar, e aquele humano da estrada que liga os homens, com o seu trabalho, suas paixões e suas histórias.
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