Por fim, voltemos à Romagna para conhecer uma técnica em uso nestas terras desde o século XVIII. É a impressão em tecido, uma tradição camponesa que floresceu nas áreas de Forlì-Cesena, Ravenna e Rimini após um longo período de esquecimento.
Para as estampas da Romagna, é necessário um tecido natural, linho ou cânhamo, e matrizes em madeira de pêra esculpidas pelos mesmos artesãos que imprimem a tela. Em seguida, passa-se à preparação das cores em que os moldes são embebidos: o mais típico é a ferrugem, mas também há amarelo ocre, azul e vermelho. O resultado são toalhas de mesa, guardanapos, aventais, colchas e muitos outros tecidos do lar embelezados com desenhos tradicionais como folhas de hera, espigas, galos, rebentos de parreira, cachos de uvas e canecas rústicas.
Para quem quer descobrir todos os segredos das estampas da Romagna, muitas gráficas da região abrem suas portas aos visitantes para visitas guiadas e outras iniciativas.
A história nos ensina que o uso de tecidos estampados na Romagna aparece por volta do ano de 1700, e teve força com os tecidos de lã macia ou seda, que eram usados para enfeitar os bois expostos nas feiras da região. As primeiras ilustrações, das quais se tem notícia, retratavam um medalhão com Santo Antônio Abate, protetor dos animais.
Seguindo a imaginação camponesa, juntamente com a dos artesãos, foram inventadas centenas de outros motivos que durante séculos tornaram-se desenhos únicos deste artesanato romagnolo sobre tecidos, destinados ao uso de toalhas de mesa, panos de prato, aventais, cortinas, colchas, entre outros.
A técnica e os equipamentos utilizados para a estamparia sempre foram os mesmos até hoje. Sobre os moldes, todos entalhados a mão e dispostos nas prateleiras, é aplicada uma pasta colorida a base mineral: do azul ao verde, até a inconfundível cor ferrugem, obtida com mistura de oxido de ferro, farinha branca e vinagre de vinho.
A cor ferrugem, usada com tanta propriedade, possui o fascínio da cor encontrada naturalmente, elegante, requintada, que dá nobreza e dignidade histórica à decoração.
O estilo é definido como “rústico” porque nasce dos camponeses e nos transmite sensação de encantadora simplicidade. Os motivos, finamente elaborados, determinam um riquíssimo efeito típico e inconfundível nos tecidos.
Os motivos mais comuns são: vaso com uva, borda com frutas, folhas de uva, borda com guirlanda, uva e pássaro, gótico, borda com pinha e dragões, além do galo com a cavéia (ou caviglia) e a figura de S. Antonio Abate.
Chegando no centro de Gambettola uma série de placas bem visíveis indicam a presença dos tecidos estampados. Uma casa no centro da cidade sempre abrigou a estamparia Pascucci. No interior da primeira sala, nas prateleiras, estão expostos os artigos produzidos, pendurados no teto para secar estão as toalhas com diversas decorações. Na sala ao lado, na velha oficina (bottega), está o maquinário textil do seculo XVIII: a oficina é ainda familiar, dois irmão e seus filhos, com outros empregados, porém a produção não se desenvolve mais nos locais históricos mas no edifício que surge ao lado. Entrando no novo local, muito amplo, verifica-se tantas bancadas e o ar é impregnado de um forte cheiro de vinagre, elemento utilizado na produção da cor avermelhada das estampas.
Os tecidos estampados da Romagna é uma atividade artesanal tradicional que chegou até os dias atuais:
A falta de uma específica documentação historica permite apenas formular hipóteses sobre a época do nascimento das oficinas de tecidos estampados. Provavelmente são as últimas que sobreviveram de um grupo de fabricas difusas no Estado Pontifício e na propria Roma até o fim do século XVIII. Permanecem na Romagna porque nesta região esta atividade encotra-se de algum modo ligada a prática agricola e a religiosidade popular.
No fim do seculo XIX os teares domesticos vão desaparecendo, mas os tecidos são ainda levados nas estamparias para a decoração, talvez só alguns, somente aqueles do enxoval doméstico, mas se busca o valor simbólico da continuidade e da identificação cultural com a própria terra.
Atualmente o número de oficinas ou ateliê (bottega) que tem como atividade principal a estamparia sobre tecido é pequeno, entre as mais antigas e carateriscas, além da Pascucci de Gambettola, há a bottega Marchi em Santarcangelo di Romagna. Entrando na bottega di Alfonso Marchi perde-se em uma atmosfera fora do tempo, os movimentos do trabalho são seguros e precisos, mas no mesmo tempo sem pressa: o objetivo não é o de empregar o menor tempo possível, mas o de fazer um bom trabalho. Marchi provem de gerações de estampadores, desde criança jamais pensou em fazer um trabalho diferente deste, e até seu filho fez a mesma escolha e já está trabalhando na bottega com ele.
A tecnica da estampa dos tecidos com o metodo tradicional consiste na utilização de matrizes de madeira entalhadas perlo próprio artesão com motivos decorativos extraídos de um repertório de tradições muito amplo, galos, ramos de videiras, caixos de uvas, utensilios rusticos, pinha, folhas de uva, touros enfurecidos, enrriquecidos com motivos novos como a meia maçã de Tonino Guerra.
Os moldes são impregnados com uma pasta colorida obtida a base de elementos tratados com procedimentos aos quais cada artesão acrescenta pequenos aperfeçoamentos. Os moldes são apoiados sobre o tecido e sobre eles com um martelo de madeira aplicam-se golpes que transferem o desenho. Passa-se então a secagem e a fixação. A cor mais típica utilizada é o ferrugem obtido do oxido de ferro doce. Mas como pode reconhecer uma estampa industrial de uma estampa a mão?
Industrialmente são impresas uma tinta sobre o tecido, enquanto que nas estampas artesanais o tecido é tingido nas diversas cores restituindo a trama original: o tecido é tingido e não pintado.
É difícil prever por quantos anos ainda esta atividade tradicional permanecerá ainda viva e intacta: mas ainda hoje nunca falta uma toalha de mesa tradicional no enxoval de uma noiva romagnola.