De qualquer forma, não há dúvida, que refletindo ainda em termos de longa duração histórica, seja possível revelar uma série estável própria da vida literária na Emilia-Romagna. A primeira diz respeito a um requerimento narrativo com fundo épico e fantástico, onde o trágico está sempre pronto a acabar no cômico, que coloca em relação direta (e é esta uma outra característica específica daquelas províncias do mundo que são os centros emiliano-romagnoli, não importa se pequenos ou grandes), a cultura alta (escrita) e a cultura baixa (oral), o mundo aristocrático da corte e o mundo popular cotidiano.
Os casos do Boiardo e de Ariosto, de uma parte; e dos autênticos Rabelais italianos como o Folengo del Badus ou o Giulio Cesare Croce de Bertoldo, de outra, são dignos exemplos. E de fato, é possível reconhecer rapidamente algum autêntico herdeiro moderno nos narradores, também diversos entre eles, como o fluvial Riccardo Baccheli do Mulino Del Pó ou Gianni Celati e L´Ermano Cavazzoni cantores, hoje, de marginalizados e de lunáticos.
Não é por menos que as consideráveis injeções de realidade histórica (entre experiência privada e dinâmica coletiva) que revigoraram as obras de um poeta da cronologia familiar como o parmense Attilio Bertolucci, com a sua Camera da letto (quarto de dormir), ou de Giorgio Bassani do Romanzo di Ferrara, com a poéticas pascaliana e manzoniana do Che sa il cuore? ( o que sabe o coração), ou de Renata Viganò testemunha em primeira pessoa do romance partigiano L´Agnese va a morire, ou , ainda, de Cesare Zavattini de uma autobiografia afastada e sem exaltação como Parliamo tanto di me (Falamos muito de mim) ou de Giovannini Guareschi inventor do agradável Mondo piccolo di Peppone e Don Camilo, ou do notável poeta civil de origem piacentina Alberto Bellocchio (autor da atual narração em versos La banda dei revisionisti), ou , enfim, de um detetive de monstros fluviais como Guido Conti jovem do Coccodrillo sull´altare, puderam vir positivamente retratar o mesmo gosto do narrare in grande, para uma coletividade que sabe ainda reconhecer o senso do próprio percurso ideal e existencial.
Em tal perspectiva, o trabalho do realismo transformou-se, no tempo, em um método de questionamento do mundo, pronto a questionar até as zonas mais obscuras da existência coletiva, deixando espaço ao acaso, juntos necessário e possíveis do imaginário, do sonho, do metafísico.