Por isso, o Governo Imperial começou a se preocupar com a substituição do braço escravo na lavoura, principalmente na cultura do café em franca expansão. A solução era buscar na Europa, principalmente na Itália, mão-de-obra que começava a faltar aqui. Como ajuda, o Governo pagava a passagem de quem se dispusesse a vir para o Brasil.
Além do mais, muitos países europeus, principalmente a Itália, passavam por sérias dificuldades e liberavam a saída de imigrantes para aliviar a pressão social que enfrentavam. Pela Lei nº 3417 de 26/08/87 o Governo criou o Serviço de Imigração e Colonização para facilitar a vinda de imigrantes, procurando instalá-los em comunidades às margens das ferrovias para melhor escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o Governo criou em Juiz de Fora a Inspetoria Geral de Imigração e construiu na cidade um centro de acolhimento chamado Hospedaria Horta Barbosa para abrigar os imigrantes durante 10 dias, visando facilitar a adaptação deles ao nosso país. Posteriormente eram encaminhados aos fazendeiros da região para lhes forneciam trabalho e alojamento.
Para se ter uma ideia da quantidade de imigrantes que vieram, basta citar que de 1894 à 1901, 75 navios transportaram para Minas Gerais, via Porto do Rio de Janeiro, cerca de 47.000 imigrantes, a maioria italianos.
A viagem marítima que duravam em média 40 dias, pouco se sabe. No caso, de algumas famílias que aqui se estabeleceram, como os Soldati, Lippi, Marchi, Benini, etc, vieram no navio ATTIVITÁ que chegou ao Rio de Janeiro em agosto de 1897.
Do Rio foram para Juiz de Fora, ficando na Hospedaria Horta Barbosa, quando foram designados para trabalharem nas fazendas de café e outras culturas nas cidades de Leopoldina, Piraúba e outros pequenos povoados nesta região da Zona da Mata mineira.
Os colonos italianos trabalharam como meeiros nestas fazendas até 1910, quando neste ano, com a intenção de assentar os imigrantes chegados nos finais do século XIX e início do século XX, o Governo Mineiro, tendo como Governador e futuro Presidente da república Wenceslau Brás, adquiriu uma grande área de terras, pertencentes ao Coronel Silvério e decidiu dividi-la em 54 lotes de 3 alqueires cada e vendê-los aos imigrantes.
Para pagar as terras ao longo dos anos, os colonos entregavam ao Governo parte daquilo que produziam, café, milho, arroz, feijão e assim iam quitando suas prestações até a posse definitiva da terra. Este assentamento, chamado de Colônia Santa Maria, oficialmente Núcleo Colonial Santa Maria, deu-se pelo Decreto nº 2.811 de 22 de abril de 1910. A Colônia tinha um administrador nomeado pelo Governo para levar a bom termo esse tipo de reforma agrária, que aliás é considerada por muitos como a 1ª Reforma Agrária verdadeira realizada no Brasil, onde, sem conflito algum, foram distribuídos pelo governo aqueles lotes de terra para plantio, bem como insumos e infraestrutura básica necessários para a prática agrícola.
A Colônia Santa Maria se localizava na região entre o antigo município do Pomba e o município de Ubá, no distrito de Diamante e parte também do município de Cataguases. Região onde hoje estão os distritos de Sobral Pinto e Santana do Campestre, pertencentes ao município de Astolfo Dutra.
Ali foram assentados a maioria das famílias originárias da Emilia-Romagna, principalmente da província de Bologna, como Marzabotto, Savigno, Vergato, etc. Famílias que hoje estão espalhadas pela região de Ubá e todo o país como os Benini, Soldati, Marchi, Medici, Benevenuto, Verbena, Tilli, Lavorato, Lippi, Gazetta, Segheto, Paschoalini, Peluso, Rufato, Sabioni e muitas outras que tiveram suas origens brasileiras na Colônia Santa Maria.
Uma curiosidade é que, um dos colonos, Ferdinando Soldati, de família pobre, era um jovem empregado de uma família muito rica, nos arredores de Bologna e sua função era ser ”ama-seca”, ou seja, pajem de um menino muito esperto e inteligente, que viria a ser, anos mais tarde, o inventor do rádio e do telégrafo, o grande Guillermo Marconi.
O trabalho na colônia era duro, vivia-se para trabalhar, mas havia também muitas estórias engraçadas, como uma em que os colonos, recém chegados a um país desconhecido, começaram a trabalhar nas suas lavouras e um velho colono contava que, uma vez, iam de madrugada, naquele frio intenso, com seus velhos paletós grossos e xadresados, penduravam eles nos tocos das árvores e pegavam firme nas enxadas, cavando a terra para semear. Na hora do almoço, sentavam todos para apreciar aquela marmita, feita na madrugada e reparavam, admirados enquanto comiam, uma fileira de formigas grandes, cada uma carregando uma bandeirinha, um pedacinho de alguma planta ou outra coisa qualquer, rumo ao formigueiro, parecia uma procissão. Quando, à tardinha, cansados, recolhendo suas ferramentas para irem pra casa, pegaram seus paletós e viram que estavam todos cortados e picados pelas formigas, que, na verdade, aquelas “bandeirinhas” eram parte dos seus paletós...que, talvez por estarem tão velhos e “ensebados” foram atrativos pra elas.
O episódio da criação da Colônia Santa Maria, foi uma ajuda inestimável para os imigrantes daquela época que queriam trabalhar, ter sua própria terra e criar suas famílias, visto que, na maioria eram empregados de grandes fazendeiros da região que, após o fim da escravidão, tinham aqueles para substituir a mão de obra escrava e, na maioria das vezes, não remuneravam corretamente ou não davam condições mínimas de conforto à suas famílias. A partir desta Colônia e à custa de muito trabalho e sacrifício, os italianos foram se expandindo, constituíram famílias, melhoraram o padrão de vida e muitos se deslocaram para cidades vizinhas ou mesmo para outros estados do Brasil.
A criação da Associação foi devida à enorme vontade dos fundadores de unir os descendentes daquela região da Itália e contribuir para um melhor conhecimento e integração entre esta região do Brasil e a sua terra-mãe , na Itália. Já foram realizados inúmeros eventos ao longo destes anos, visando esta integração, como: Concertos, apresentações teatrais, intercâmbio de associados, bolsas de estudo na Itália, mostras, exposições, reuniões, festas comemorativas, como a Festa de 100 anos da criação da Colônia Santa Maria e muitos outros.
Atualmente a Associação Cultural está desativada, devido à falta de associados presentes para geri-la.
• Mais Informações sobre a Colônia Santa Maria, tem o excelente livro “Imigrantes...Reverência” da professora e escritora Rosalina Pinto Moreira, que fez um trabalho meticuloso e rico em detalhes sobre os colonos, lançado em 1999 pela Editora O Lutador.