A cidade de Salto localizada no interior do Estado de São Paulo a cerca de 100km de São Paulo é uma cidade com forte presença italiana, sobretudo da Emilia-Romagna.
Sabe-se que a maioria dos italianos que emigraram para o Brasil na primeira fase da história da imigração brasileira, ou seja, aquela que começou em meados do século XIX, vinham trabalhar no cultivo do café. Embora a região de Salto e Itu fosse imprópria para o cultivo do café, algumas fazendas o cultivavam porque o café era a principal cultura da economia brasileira desde meados do século XIX até 1930-1940.
No início do século XX, como resultado do processo de industrialização, a cidade de Salto, passou a receber muitos italianos que trabalhavam nas fazendas da região, e muitos outros que para lá imigraram para trabalhar na indústria. Havia também aqueles que, depois de terminarem seus contratos de trabalho nas fazendas, vinham para a cidade para exercer seus ofícios: eram pedreiros, carpinteiros, viticultores, sapateiros, músicos, pedreiros, etc. Segundo dados históricos, cerca de cem famílias de origem italiana se estabeleceram em Salto na primeira década do século XX.
A diversidade encontrada na nova terra, no idioma e na gastronomia, juntamente com a falta de familiares deixados para trás na Itália, levou os italianos a se aproximarem com o objetivo de superar as grandes dificuldades da melhor maneira possível. Assim, no início, a colônia italiana criou em 18 de agosto de 1901, a Corporação Musical Giuseppe Verdi que logo ficou famosa em toda a região de São Paulo, também conhecida mais tarde como a Banda Italiana de São Paulo.
Relevante na história da Corporação Musical Giuseppe Verdi foi a figura do músico Enrico Castellari, natural de Parma, que por mais de 50 anos dirigiu a Banda ensinando música a muitos descendentes de italianos.
Entre 1934 e 1937 a Società G. Verdi construiu um novo prédio chamado Nuovo Verdi, próximo ao inicialmente construído pela Corporação Musical. Edificou ainda outro prédio, bem no meio dos dois precedentes, a Casa Itália, onde hoje está instalado o Museu Municipal.
Nos prédios da
Società G. Verdi havia uma biblioteca (
Circolo di Lettura Dante Alighieri), a Sociedade dos ex-combatentes italianos da Primeira Guerra Mundial, na verdade um braço do Partido Fascista, e a Escola Italiana do Professor Francesco Salerno, que foi cônsul em Salto por 5 anos. A escola do professor Francesco Salerno em 1931 foi transformada na escola Anita Garibaldi que funcionou até 1968, e que ainda traz muitas boas lembranças aos seus ex-alunos que ali puderam aprender a língua e a cultura italiana.
Antes da Segunda Guerra Mundial a Società G. Verdi estava muito bem estabelecida e tinha centenas de sócios, tanto italianos quanto brasileiros. Com a guerra entrou em vigor uma lei que proibia a possibilidade de ter sócios brasileiros, mesmo que fossem descendentes de italianos. A entidade ficou reduzida a não mais de 80 membros.
Com o rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e Itália, devido à Segunda Guerra, a
Società G. Verdi foi obrigada a suspender suas atividades. Então, para ter a oportunidade de manter seus bens, foi alugado o Verdi Nuovo para um estabelecimento de cinema. Os demais prédios permaneceram fechados por decisão das autoridades brasileiras.
Neste período, verifica-se no registro que os italianos eram obrigados a fazer na Delegacia de Polícia, que viviam em Salto os seguintes italianos originários da Emilia Romagna:
Com o fim da guerra e a retomada das relações diplomáticas entre Brasil e Itália, a Società G. Verdi retomou a posse de seu patrimônio, mas contava com apenas 51 integrantes que diminuíam a cada ano. Após reestruturaram da sede em 16 de julho de 1955, a Società G. Verdi já estava apta a funcionar em todos os aspectos.
Nos anos que se seguiram, a entidade não conseguiu funcionar adequadamente. Assim um grupo de cidadãos, entre eles muitos descendentes de italianos, começou a lutar pela sua recuperação, e, para que os seus bens tivessem a destinação concebida pelos seus fundadores. Desta forma, em 1986 a Prefeitura de Salto iniciou um processo de desapropriação dos prédios da
Società G. Verdi, disputa judicial que se arrastou por anos até que, em 1994, o processo foi extinto com um acordo de comodato por 30 anos.
Foram então reformados os prédios, colocando-os em condições de funcionar em conjunto com o Teatro Giuseppe Verdi e o Cinema, e a instalação do Museu Municipal. A Prefeitura, assumiu no acordo de comodato o compromisso de pagar o salário de uma secretária e de um professor de italiano, determinando a construção no interior do edifício de um local utilizado para a sede da então Società G. Verdi e para o desenvolvimento das aulas de italiano. O curso de italiano da atual Associação Giuseppe Verdi é referência na região, tendo por ele passado inúmeros alunos.
É importante ressaltar que no Brasil, especialmente na região de São Paulo, estimativas indicam que vivem cerca de 13 milhões de italianos e descendentes, cerca de 32,5% da população do Estado. Ao contrário da média nacional que é de 4,3% de imigrantes italianos da Emilia-Romagna presentes no Brasil, em Salto esta média é de mais de 9%.
Os emigrantes italianos que chegaram ao Brasil na primeira fase da imigração eram principalmente pessoas simples e humildes, muitos deles analfabetos, uma das causas que contribuiu para a perda de contato com os parentes mais próximos deixados em sua terra natal. Apesar da simplicidade, os imigrantes nos trouxeram seus costumes, sua música, a culinária, a experiência agrícola, o ideal de liberdade, o amor à família, à terra e ao trabalho e, por fim, a apreciada cultura italiana.
A figura do imigrante italiano no Estado de São Paulo e no Brasil é sinônimo de seriedade, dignidade, honestidade, até mesmo porque seu trabalho foi a base essencial para o progresso do estado e do país.
Hoje o sentimento de italianidade é muito forte e presente nos netos, bisnetos e trisnetos de italianos que, orgulhosos do legado deixado por seus ascendentes, buscam resgatar suas origens, cultivando o amor dalla terra madre, mai dimenticato.
Bibliografia e fontes de pesquisa:Acervo do Museu da Cidade de Salto
LIBERALESSO, Ettore. Salto – História, Vida e Tradição. Salto, Edição do autor, 1987.
PACHECO, Maria Damien Ignácio. Un Dolce Ricordo...- História da Associação Italiana Giuseppe Verdi de Salto -1903-2013”
Artigo vencedor do Concurso de Artigos e Redação sobre o Patrimônio Cultural da Emilia-Romagna - Categoria Sócios das Associações da Emilia-Romagna no Brasil e emiliano-romagnoli e descendentes residentes no Brasil, promovido por este site em 2022.
Vencedora - SONIA MARIA VILLA CASTILHO